Numa ligeira alteração ao seu formato o espaço "Penalty's" destaca figuras e acontecimentos de 2009.
2009
A forçosa resenha do melhor e pior cá do burgo
As figuras +
1º José da Mota Freitas- Professor da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto, e a sua equipa foram distinguidos, em Setembro de 2009, em Banguecoque, pela International Association for Bridge and Structural Engineering (IABSE) com a atribuição do prémio Ostra-Outstanding Structure (espécie de “Nobel” da engenharia civil) pelo projecto desenvolvido na Igreja da Santíssima Trindade, em Fátima.
Este prémio é atribuído ao projecto que é considerado como o mais notável, inovador e criativo feito no mundo nos últimos anos. Desta vez, o júri da IABSE rendeu-se à amplitude da estrutura circular da Igreja, onde cabem nove mil pessoas sentadas, delimitadas por uma parede circular atravessada na zona central por duas grandes vigas que suportam a estrutura. São vigas em betão branco que foram pensadas de forma a retraírem e a expandirem, consoante a temperatura, sem que haja fissuras (in Público).
2º Grupo Jerónimo Martins- Em finais de Agosto, anuncia uma das melhores notícias do ano para a agricultura e agro-industria nacional, i.e., acordou com uma cooperativa de produtores de Portalegre a compra mensal de 300 mil litros de leite, havendo mesmo predisposição para comprar mais e mais produtos. A empresa, segundo os seus líderes, decidiu apostar na produção nacional, como tal, este acordo fez parte dessa estratégia.
Foi a contribuição da multi-nacional para um sector que volta a necessitar de uma atenção especial, cabe agora às outras forças vivas interessadas, e também ao estado central e local, encontrarem soluções de evolução de forma a defender o leite português, sem que sejam apenas “derramar” dinheiro sobre um mercado com excesso de produto. Porque raio temos que ser nós a sair do mercado?! Não tem que ser uma fatalidade.
Por outro lado, gostava de nunca mais ver em minha casa leite do Pingo Doce originário da Polónia (só aconteceu por distracção), irei estar atento.
3º Medina Carreira- O pessimista militante ganhou o respeito do país e o desprezo do PS, Sócrates e seus apoiantes. Só isso é bom sinal! O seu livro de 2009, co-autor com Eduardo Dâmaso, “Portugal que Futuro?” é leitura de 200 páginas mais que obrigatória.
Medina Carreira, durante o ano, apontou as fragilidades do nosso sistema, centrando, e bem, as atenções no peso do estado, incompetência oportunista dos políticos, no estado da educação e da justiça. Embora não concretizando totalmente, deixou implícitas as soluções para sairmos da crise total que atravessa Portugal -não passam por Keynes-. De um livro que considero uma sinopse extraordinária da mediocridade da nossa primeira década no Século XXI, deixo aqui alguns excertos lapidares;
“… Em Portugal tem-se feito o que parece ser indispensável, mas as grandes obras públicas, em nome do combate à crise, constituem um autêntico «crime»…”
“… A «obsessão» do défice foi uma «História da Carochinha» de que a oposição do tempo se serviu para atacar Manuela Ferreira Leite…” (chamar estúpido e ignorante ao anti-patriota do Jorge Sampaio não poderia estar mais claro, ao fim ao cabo foi o líder deste movimento).
“…Em Portugal, como sempre, o óbvio só é entendido pelos infractores e nunca pelos legisladores…”
“ …a evolução económica portuguesa….atravessa um longo período de progressiva desaceleração…. Um crescimento…4% (1980-1990); 2,5-3% (1990-2000); 0,8% (2000-2008)…”
“…Definitivamente, entendamos que não são a constituição de 1976, nem as proclamações da «esquerda» que desconhece, odeia e foge dos números os garantes da sobrevivência do Estado social Português…”
As figuras -
Último lugar- Marinho Pinto, Bastonário da Ordem dos Advogados
Quando um cidadão, representante de uma classe profissional, decide fazer disso uso para promoção pessoal e luta político-partidária, mancha o seu nome. Marinho Pinto prejudicou constantemente o seu prestígio técnico e defraudou a classe, colada, por ele, a um primeiro-ministro que no mínimo tem problemas com a verdade. Foi eleito para defender a advocacia e a justiça, não para justiceiro e/ou ocultador de trapalhadas governativas socialistas. Prevejo que vai pagar muito caro esta mistura indecente de planos (ou não! O PS, com certeza, lhe dará o mão no futuro!). Tinha tanta esperança neste senhor quando começou por denunciar tiques indecentes dos nossos tribunais…
Penúltimo lugar- Pinto Monteiro, Procurador Geral da República
Também já o louvei no passado, contudo, quando à procuradoria chegaram problemas com políticos da sua preferência foi o descalabro total. Aliás, já o tinha dito neste blog, desde o caso “Freeport”, este senhor perdeu-se totalmente. Apesar de se dizer sério, não teve uma postura honesta, isenta, competente e esclarecedora nos casos que abalaram indivíduos ligados ao PS. Já devia ter pedido a demissão. Provavelmente, menos visitas à fundação Soares (em alturas duvidosas) e mais atenção ao correcto desenvolvimento das suas funções seria aconselhável. Voltar para às Beiras era o ideal.
Antepenúltimo lugar- O Governo do nosso Portugal
A insistência em políticas macroeconómicas erradas levará Portugal à quase bancarrota. TGV´s, Auto-estradas, Aeroportos (NAL e Beja), subsídios avulso, ajudas sem critério, aumentos salariais desajustados, salvação de empresários e bancos que deveriam ter ido à falência, ausência quase total de racionalização nos gastos da função pública, más previsões, incapacidade de tirar proveito total do QREN, etc. etc.
Os acontecimentos +
As deliberações do Tribunal de Contas- É deste órgão que a sociedade foi tendo notícias animadoras no que toca à fiscalização credível do cumprimento da lei nos actos e contractos do estado. Até ver, Guilherme Oliveira Martins, como presidente, e demais juízes conselheiros, estão a fazer um bom trabalho, pondo a nu incompetências da administração central e local. Em 2009, mais uma vez, a instituição não fugiu à regra, nos seus relatórios sistematicamente nos confrontou com o que o nosso estado fez de mal, ilegal ou de forma incapaz. O seu Presidente teve o mérito de isolar o tribunal de colagens partidárias. Por isso, quando o ouvimos dizer que um qualquer contrato ou acto é ilegal, não foi cumprido, ou excedeu sem explicações as suas dotações financeiras, nós escutamos e acreditamos, perante isto, não há muito espaço para prevaricadores contestarem a credibilidade da instituição, mas sim tentarem defender ponto de vistas contrários dentro das leis de jogo de forma civilizada. Assim o que apraz celebrar é a credibilidade dos actos deliberativos deste órgão que a continuar assim deveria ser investido de mais poder.
A disseminação de pequenos projectos de energias renováveis- Uma das valias nacionais no que respeita à mudança de paradigma energético, é sem dúvida a adesão da sociedade civil às energias renováveis e sensibilidade para as vantagens da sua rentabilização de acordo com a tecnologia disponível. Assim, são as instituições públicas ou empresas instaladoras que com pequenas centrais de produção -em telhados, jardins ou terraços-, fazem da nossa revolução energética um caso de relativo sucesso. No ano que acaba vários projectos deste tipo nasceram. Os últimos exemplos que me lembro são a Universidade de Aveiro e o MARL. Assim, à sua escala e de acordo com os seus interesses, contribuem acertadamente para a produção de energia, i.e., pequenas centrais geridas por entidades locais que à partida não vão fugir com as “vantagens para fora do país”. À falta de usar materiais nacionais ou menos que a energia se produza, consuma, pague-se e se “invista” em Portugal por Portugueses.
Qualificação de Portugal para o Mundial de Futebol na África do Sul- Sem estratégia de médio/longo prazo claramente definida, recorrendo-se inclusive a naturalizações –não regulamentadas- perigosamente descaracterizadoras da identidade nacional, a equipa de futebol nacional conseguiu garantir presença no Mundial 2010. É bom para a nossa contínua afirmação como país e cultura. Foi óptimo pois provámos ser capazes sem recorrer a religiosidades e treinadores do vale tudo! Para o bem e para o mal o futebol é o nosso produto cultural mais rentável e interessante, estando ele presente no evento terrestre mais importante da modalidade, ganhamos todos.
Os acontecimentos –
Escalada da violência doméstica- Sem precisar de estatísticas oficiais – também estas violentadas por um governo que as esquece -, sinto-me repugnado com violência, agressões e demais cenas tristes que constantemente provocam mortes e traumas no seio das famílias despedaçadas por homens ou mulheres que não conhecem limites de decência. O pior é que o estado também não os impõe. Há ainda muitas mortes em Portugal, esmagadoramente de mulheres, vítimas de violência doméstica. 2009 é mais do mesmo. É uma vergonha civilizacional. Não será esta uma questão “fracturante” que mereça a paixão exacerbada dos intelectuais de Lisboa e Porto?
Quererão legisladores e fazedores de justiça alterar em força esta realidade para os anos vindouros? Parece que temos que esperar…o casamento de “rabetas” está primeiro. Estranho caso de prioridades.
A campanha e respectivas eleições em Portugal- Inacreditável como não se conseguiu discutir os verdadeiros problemas do país na campanha -com mais culpa de uns do que de outros-. Julgo que enquanto José Sócrates for político proeminente vamos andar constantemente nisto, quer estejamos em campanha ou não, ele fez a sua carreira na lama e questão faz de arrastar também para ela quem isso denuncia em praça pública. Enquanto a questão do carácter e honorabilidade dos políticos de proa não estiver garantida não saímos do grau zero da política (não de rasteiro mas de essencial).
Inaceitável foi igualmente, com o pretenso argumento que os portugueses votantes são ignorantes e podem-se confundir, não ter junto no mesmo dia as eleições legislativas e autárquicas. Este gasto de tempo e dinheiro num país milionário, mais uma vez devemos à fantástica ala esquerda da política Portuguesa.
Cimeira Ibero-Americana em Lisboa- Uma cimeira verdadeiramente inútil de que apenas se conseguiu “espremer” uma qualquer deliberação sobre as Honduras!? Um país organizador de dimensão superior teria proposto uma diminuição da periodicidade do evento. Até porque o grau de profissionalismo e dinheiro investido nesta cimeira foi claramente desproporcional à importância dos assuntos nela tratados. Teria sido um sinal de poupança e clarividência.

A vida supera sempre a ficção na criatividade